segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Porto Nacional, Natividade, Arraias, Monte Alegre de Goiás, Teresina


Porto Nacional
Após quase duas semanas na fazenda do Fei em Palmas, partimos em direção a Alto Paraíso. Seriam mais de 7 dias de pedal, 650 km, até o cartão postal de Goiás. A volta para a estrada não foi fácil, muito tempo de sedentarismo boêmio, mas pedalar é preciso. Nossa primeira parada foi na segunda cidade mais antiga do Tocantins, Porto Nacional. Já tínhamos endereço certo na casa de um amigo do Fei, o Tiago. Quando chegamos, encontramos um casarão antigo bem conservado e o Tiago estava trocando sua caixa D´água de amianto cheia de lodo, por uma de PVC novinha. O problema é que tinham que subir um suporte de concreto redondo de mais de 200 kg até o alto para ficar embaixo da nova caixa. Nossa ajuda foi super bem vinda e com o suporte de uma corrente, conseguimos com muito esforço subir a danada.

Casarão restaurado

Casarão restaurado

Porto Nacional
Comemos um açaí na cidade e fomos dormir nas imediações do prato de comida de um rottweiler. No dia seguinte o Tiago já estava na labuta pela manhã. Ele estava reformando o casarão aos poucos e tinha muito trabalho pela frente e mesmo assim nos preparou junto com sua mulher um suco de manga do quintal e tapioca. Fomos debaixo de chuva buscar pães e depois fizemos um som rápido para nos despedir. Grande abraço pessoal.

Tiago com a mão na massa

Mandando um som

Nós, o casal e o rottweiler

De volta à estrada, sabíamos que a qualquer momento a chuva que vinha do sul podia nos pegar. Saímos quase no horário do almoço e pedalamos até o entardecer para uma cidadezinha beira de estrada onde encostamos próximo a um hotel para tentarmos uma cortesia. O filho do dono quis nos ajudar mas não podia fazer nada sem a permissão do pai que não foi concedida. Tomamos um banho frio e começamos a encher os colchões na frente do restaurante que também era do dono do hotel e logo o filho disse que não poderia nos deixar dormir daquela maneira e nos pagou uma noite no hotel de seu pai. Achamos muito bom e fomos então dormir sossegados. Acordamos tarde e percebemos que tinha chovido bastante pela manhã, tomamos um café rápido e saímos sentido Natividade, a cidade mais antiga e bonita do Tocantins.

Hotel Serra Geral - Natividade
Uma pedalada longa de 100 km que valeu a pena quando encostamos no melhor hotel da cidade, o Hotel Serra Geral, bem em frente a uma belíssima serra que inspirou o nome do estabelecimento. Fiz um jantar humilde e caí no travesseiro. No dia seguinte, café da manhã no hotel, que é sempre muito bom, pois não gastamos nada e resolvemos o problema rapidamente. Tiramos uma foto com o dono muito simpático que disse para visitarmos o centro histórico e lá fomos nós. Conhecemos a estrutura de uma igreja feita pelos negros sem o teto, pois ela foi abandonada após a Lei Áurea em 1888 que proibiu a escravidão. Mais de 100 prédios da cidade foram tombados como patrimônio histórico da sociedade, mantendo a arquitetura colonial da época. Muito linda a pequena cidade de Natividade.

Hotel Serra Geral - Natividade

O dono

Natividade

Igreja não terminada dos negros

Igreja não terminada dos negros
Igreja não terminada dos negros


Natividade

 Próximo destino foi Paranã, até então fora o dia de pedal mais intenso, 120 km com algumas subidas no final. Lá tomamos banho em um posto, cortesia num restaurante, compra de R$ 3,59 no supermercado, R$ 2,00 numa Lan House, e aos 45 do segundo tempo, uma cortesia numa pousada. That´s right!
Pousada Ribeiro - Paranã

Café da Manhã
No dia seguinte sabíamos que o trecho de quase 120 km não tinha nenhum comércio posto ou vilarejo. Tínhamos que ir com muita comida e água para passarmos bem o dia todo pedalando e se preparando psicologicamente para a subida final de 2 km íngremes antes de Arraias. Saímos com o tempo nublado, ideal para o pedal, sem chuva, sem sol. Pedalamos 60 km, cerca de 3 horas e meia para então pararmos numa pequena estrutura de madeira na beira da estrada e fazermos um almoço nutritivo.


Dois jovens de cavalo pararam para conversar com a gente e pouco mais de uma hora estávamos no labor outra vez. Mais 3 horas de pedal e logo percebemos que a subida iria iniciar. Um falso alarme de uma subida curta e então coloquei a câmera fotográfica GoPro no capacete para registrar o momento de mais esforço da viagem depois de cruzarmos Minas Gerais pela Estrada Real. O velocímetro marcava 5,5 km por hora, uma velocidade de uma pessoa caminhando em um ritmo pouco acelerado, na marcha mais leve, em alto giro e com mais de 20 kg de bagagem. Não conseguimos terminá-la em cima da bike, já estávamos cansados de 5 dias de pedal intenso e chegou uma hora que não deu mais.

Subidas e descidas

Se subiu tem que descer

Fazendo um rango

Batimento cardíaco super acelerado, pulmões não conseguindo suprir toda a carência de oxigênio e esfriar o corpo cada vez mais quente. A melhor coisa a se fazer depois de parar e recobrar o andamento normal da respiração é grudar na traseira de um veículo pesado, a uma velocidade consideravelmente baixa, e foi o que o Diego conseguiu fazer quando avistou um subindo e a pior coisa que se pode fazer é dar um sprint para tentar alcançar a carona inusitada e não conseguir agarrá-la e se ver mais cansado e ofegante ficando pra traz e observando o amigo subindo sem muito suor. E foi isso que eu fiz! Finalmente chegamos em um posto para um lanche e assistimos o Fluminense ser campeão. Fomos em direção a uma cortesia num hotel e não a conseguimos no primeiro, de repente a chuva caiu com força e ficamos mais de hora aguardando ela acabar conversando com os clientes e o funcionário do hotel. Daí então resolvemos seguir com chuva rala para depois nos ver ensopados em frente a um pequeno hotel onde tínhamos garantido um sofá do saguão. Dissemos que tentaríamos uma cortesia no último hotel da cidade e se não tivéssemos sorte podíamos voltar. Não conseguimos, e na volta passamos em frente a casa de uma pessoa que se interessou pelo nosso projeto no primeiro hotel que ficamos esperando a chuva e nos vendo naquela situação lastimável depois de quase 3 horas de nossa despedida, ofereceu-nos o andar de cima de sua casa que não tinha móveis, só baratas e iria ser alugado pela universidade.


Matei pelo menos 15 baratas, tomei banho, lavei roupa, desmontei tudo para secar em um grande varal que fizemos e cama, de 58 cm de largura. A gente teve que aprender a dormir igual morto com os braços entrelaçados em cima do peito para não deixá-los no chão frio e sujo, de uma casa cheia de baratas. Acordamos, lanche reforçado, despedida e estrada rumo ao Goiás. Quanta saudade de nosso estado. Ficamos muito felizes em adentrá-lo, apesar da rodovia horrível que começamos a percorrer. Muitos buracos até a primeira parada para o almoço em solo goiano, Campos Belos. Ligamos para diversos amigos e a expectativa de chegar logo em Alto Paraíso para rever boa parte deles só aumentava.



 Dormimos em um posto de gasolina com a luz ligada em frente a um restaurante que abriu e fechou apenas para nos servir, pois nenhum outro cliente foi visto por lá. Imagino que toda aquela comida poderia ser revendida mais de uma vez facilmente. Blergh! Ao lado tinha um buraco de onde mais cedo tinha brotado centenas de formigas lava pé que curiosamente sumiram em poucos minutos. Acordei na madrugada e foi bem difícil conseguir preparar o corpo para o próximo dia, que achávamos que seria o mais difícil, já que estávamos em direção ao ponto mais alto do Estado de Goiás. Uma gripe maldita me pegou e percebi que minha provação final ainda não tinha data de terminar. Pedalar gripado 100 km depois de ter pedalado quase 500 km não seria fácil. Partimos na pior estrada da viagem, GO – 118, em direção a Teresina e já no começo sentimos que as subidas não dariam trégua. Duas horas de pedal e então a bike de repente ficou mais pesada e fazendo um barulho estranho. Parei e verifiquei que o meu bagageiro tinha quebrado e a mala estava atrapalhando o movimento circular da roda. Mal percebi isso e no mesmo minuto avistei uma camionete desviando dos buracos. Acenei para ela, que parou imediatamente e perguntou se eu precisava de ajuda. Que maravilha!


                                     

Colocamos as bicicletas na caçamba e seguimos em ritmo acelerado para Alto Paraíso no carro da Iara, que não se preocupava em visitar sua fazenda sozinha apesar de saber dos perigos que pode correr. Conversamos bastante sobre nossas vidas e ela foi muito simpática e prestativa conosco, e em menos de duas horas chegávamos enfim em Alto Paraíso, o cartão postal de Goiás...

Chegando em Alto Paraíso

Nós e Iara



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