terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ilha Grande



Ilha Grande

Deixei o André no cais da ilha dia 2 de dezembro, ele iria rumo a capital do Rio de Janeiro resolver algumas coisas do projeto: um notebook novo, algumas peças para bicicleta, fazer mais adesivos e coisas do tipo. Fiquei mais alguns dias na Ilha Grande aproveitando o lugar que mais gostei no Rio de Janeiro.


Despedida andré

 Fiquei mais uma noite no Che Lagarto, rolou um luau na praia, juntei com a moçada lá e o som rolou até quase de manhã. No outro dia fui caminhar pela ilha e encontrei o Jack Sparrow, na verdade é um artista que se veste como o pirata e faz a alegria da galera, conversamos muito enquanto caminhávamos pela ilha. 

Che Lagarto


Eu e o Jack Sparrow

Vista do Che Lagarto

Voltei, tomei um banho e quando sai encontrei a Mirella, amiga de Goiânia que está morando no Rio. Saímos para dar uma volta e conhecer a ilha.

Eu e Mirella
Na Ilha Grande existem mais de 100 praias, algumas cachoeiras, várias trilhas e muita história. Dizem que antigamente existia um presidio da ditadura militar, falam ainda que foi lá que o PCC foi criado. O lugar chamava Lazareto e a descrição está na foto abaixo. Mas não conta nada pra ninguém hein!
Prisão 

Prisão
Descrição
 Existe um aqueduto que antigamente abastecia o Lazareto com água direto das nascentes, e elas são muitas na ilha. Classificada como Parque Estadual, a Ilha Grande pode ser conhecida de barco ou até mesmo a pé, as trilhas levam de um lugar a outro passando pelo meio das verdes serras, basta ter bastante disposição para subir e descer os morros.

Aqueduto

Aqueduto

Camisetas Talismã
Fiz a trilha mais fácil do parque passando na praia preta, pela prisão e pelo aqueduto, na volta tem um rio muito bom para tomar um banho e logo volta para a vila. A Vila do Abraão é incrível, existem duas ruas, uma na praia e a outra paralela. Carro na vila só dos bombeiros, tranquilidade total.

Vila do Abraão

À noite saímos, comemos e logo estávamos com a bebida do momento, catuaba, limão e hortelã, uma beleza que só. Conheci umas chilenas que estavam de passeio pelo Rio, Sofia, Macarena, Josefina, Paula e Fernanda. Hablamos bastante o portunhol e curtimos bem a noite.

Las chicas chilenas
 No outro dia fui ao camping do bicão procurar um canto para dormir. Chegando lá conheci o Lelei e o cachorrão, os caras me trataram muito bem, conversamos bastante e acabei ficando na casa do Lelei 2 dias, dono do barco Glória a Deus, faz passeios e tem o segredo da pesca. Os dois conheciam toda a ilha e me mostravam empolgados as lindas fotos do lugar.

Eu e o Cachorrão

Lelei, eu, Cachorrão e outros dois


No outro dia resolvi ir a praia Lopes Mendes, o caminho vai pela mata 5 km passando por outras 3 praias. A Lopes Mendes é tida como uma das praias mais bonitas do Brasil, apesar do tempo nublado a praia realmente era maravilhosa. Possui 3 km de extensão, um visual alucinante e uma areia deliciosa, um lugar fantástico.

Praia Lopes Mendes

Praia Lopes Mendes

Acordei arrumando minhas coisas, despedi das chilenas e peguei meu rumo. Encontrei o Lelei e o Cachorrão a tempo de me despedir. Enquanto esperava o barco conheci um casal paulista que estavam por um cruzeiro, ele pedala também, os dois gostam muito de adrenalina, já saltaram de paraquedas e bunge-jump, uma ótima conversa para passar o tempo. Logo estava no barco rumo a Conceição do Jacareí.


Casal Adventure





quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Angra dos Reis - Ilha Grande



Chegando em Angra

Fizemos a primeira pedalada no nível do mar e rendeu muito. 100 km em menos de 6 horas. Acostumados com as ladeiras mineiras infinitas, vamos conseguir velocidades médias de 20 km/h em viagens de 4 a 5 horas. O problema é o vento contra, que pode aumentar em quase 20% o tempo da viagem.

Usinas Nucleares Angra I e II
 Nossa primeira parada foi em uma mina d´água em frente às Usinas Nucleares Angra 1, Angra 2 e a construção da terceira. Ficamos no ponto de um ônibus conversando com os operários da obra. Um quebrava a pedra, outro transportava para o último assentá-la nas camadas de proteção do local de enriquecimento do urânio. Segundo eles nem um atentado com um Boeing ou catapulta de dinamite é capaz de causar um acidente nuclear. Que meda!

Operários da Angra III
Seguimos em ritmo acelerado, paramos para um almoço rápido e fizemos a digestão pedalando mais devagar. Percebemos um cheiro forte de merda em algumas partes da estrada, coisa que não sentimos nos 1600 km pelo estado mineiro. O Rio de Janeiro é o terceiro menor estado do país com o segundo PIB e mais de 15 milhões de pessoas potencialmente propensas a fazer cocô nas poucas estradas movimentadas. E fora que também conta com um arsenal turístico que esbarra sempre na ética da boa convivência social.

Rodovia carioca
Chegamos numa loja náutica de uma amiga da Kátia que nos foi indicada para deixarmos nossas bicicletas e então pegar um barco para Ilha Grande. Subimos todas nossas coisas para o andar superior da loja e selecionamos nossa bagagem para levarmos. Nos despedimos dos vendedores e fomos ao porto.

Loja náutica

Porto de Angra dos Reis
 La descobrimos que poderíamos ir no Catamarã no outro dia, ou então torrarmos dinheiro em um barco particular. Teríamos então que arranjar abrigo gratuito. Passamos em um supermercado e acabamos conversando com um nordestino que tentaria arranjar a casa de um amigo para dormirmos. Depois de um lanche e um violão com um músico evangélico o cara deu o sinal vermelho, não conseguiu a casa. Nos mostrou um local onde dormia mendigos mas não pretendíamos perder nossas coisas e daí seguimos para tentar uma cortesia com alguma pousada.
 Após umas dez tentativas percebemos que seria difícil e cogitamos até pernoitar no asfalto mas quando passamos novamente na frente da primeira pousada que paramos para sentarmos no banco da praça, o tomante de conta do local nos acenou.  Ele disse que poderia nos ajudar nos colocando em um quarto com uma cama pelo preço de uma pessoa. Não era o ideal mas resolvia o nosso problema no sentido de apagar de um dia para outro.

Praça central - Angra dos reis
Acordamos ás 06:00h, tomamos lanche na praça e fomos para o porto tentar alguma forma alternativa de chegarmos em Ilha Grande. Tentamos ser transportados junto com cimento e areia, mas o dono do barco enfatizou bem a impossibilidade de qualquer solidariedade para conosco.  Um motorista baiano de outro barco disse que poderíamos tentar falar com o dono que nunca chegou e por fim zarpamos em um barco turístico com passagens de nativo.

Mudança do tempo
Fizemos um som, conhecemos umas chilenas e tivemos que emprestar as blusas de frio para elas, pois o tempo mudou de repente e começou a cair um pé d´ água. Conhecemos um argentino que estava morando na ilha há 6 meses e era gerente do Hostel Che Lagarto de lá. Ele nos disse que iria tentar nos ajudar já que já tínhamos nos hospedado na filial em Paraty. Chegamos na ilha molhados e partimos para o Hostel. A luz tinha acabado e eles estavam resolvendo problemas imprevistos e demoraram um pouco para liberarem nossa estadia.
Chove chuva

careca curioso

Che Lagarto - Ilha Grande
Quando entro no quarto dou de cara com duas inglesas com glândulas mamárias artificiais e grandes, de toalha, que não se incomodaram com minha presença. Arrumamos nossas coisas, tomamos um banho e descemos para tomar umas catuabas e esperar o churrasco argentino do pessoal que nos convidou.
Sentamos na mesa de um casal de uma alemã com um espanhol  que trabalhavam em uma empresa de energia solar e treinamos nosso inglês magro. 

Na mesa segurando vela

Mindu violeiro
 Depois da banda se despedir, começamos a tocar um violão bem animado e nos juntamos todos em torno da música especialmente brasileira. Foi uma noite sensacional sem luz elétrica e com muita energia positiva de interação. Depois dali demos uma volta pela praia com os argentinos do hostel e depois fomos conhecer a cidade que não acordou devido a chuva.

Ilha Grande demais

chove sem parar
 Conhecemos um sueco que morava na ilha a pouco tempo trabalhando com entretenimento. Ele disse que para visitar seu país era possível apenas em 3 meses do ano.  No inverno tem épocas que nem mesmo o aeroporto funciona. Ele dizia que moramos no paraíso e não sabíamos.

Amigo sueco

Fomos dormir e no outro dia seguiria para o Rio enquanto o Diego ficaria na ilha um pouco mais.



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Paraty




Paraty

Saímos de Cunha cedo rumo a Paraty, mas antes sabíamos que teríamos que atravessar a Serra da Bocaina que divide os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Já no começo da travessia pegamos uma subida bastante inclinada que me fez crer que não conseguiria terminar todo o percurso. As subidas não terminavam e o corpo estava sentindo a pedalada forte do dia passado. Após alguns km encontramos uma cachoeira na beira da estrada, paramos para refrescar e conheci o primeiro cicloturista da viagem. Um mineiro cinquentão que também queria chegar a Paraty.

Cachoeira próxima a divisa com RJ
Decidimos seguir juntos no ritmo mais lento dele. Empurramos as bikes, pedalamos e enfim chegamos à divisa. Tiramos umas fotos e começamos a descer os 20 km de uma estrada de terra que acabou com as pastilhas do meu freio. No meio da descida paramos em um mirante para comermos umas bananas e logo tivemos a primeira visão do mar, sinalizando a nova etapa da viagem. 

Descendo a Serra da Bocanha

1ªvisão do mar em mais de 2000 km de viagem
 Descemos animados e quando chegamos à cidade procuramos por um supermercado para comprarmos o almoço. Fui na onda do cicloturista totalmente desleixado com sua nutrição. Compramos miojo, couple Nudles, feijão enlatado, pães e tomates para lancharmos na beira da praia. Logo apareceu um nativo e nos ofereceu um teto em seu lava-jato perto do centro da cidade. Foi lá que fomos dormir a pior noite da viagem. Jogamos a lona sobre o chão de terra batido e armamos nossas coisas sobre ela, debaixo de um teto pequeno. Logo começou uma chuva forte e tivemos que pegar uma enxada para cavarmos valas ao redor do acampamento para escoar a água. Molhamos bastante, mas nossas coisas estavam secas. Tentamos dormir e os mosquitos não davam trégua, mesmo após passarmos os repelentes. O cicloturista reclamava muito e batia com a camiseta no seu corpo para espantá-los e junto com o Diego resolveram armar a barraca. Eu preferi ficar de fora dela e dormir sozinho com os mosquitos. Um erro! Só consegui dormir depois das 6:00h com o sol acordando, quando então resolvi entrar na barraca.


Serra da Bocanha

1º dia de praia
Acordamos, começamos a arrumar nossas coisas, lavar a lona e então o dono chegou. Trocamos umas idéias e pegamos nosso rumo para o supermercado novamente. Lanchamos e fomos imprimir as fotos que tiramos com o amigo cicloturista. O seu dente caíra no meio da viagem e o seu sorriso que já era feio, ficou sem igual, e no meio de uma conversa de telefone com sua mulher ouvi ele dizendo que iria desistir da viagem pois estava sem o atacante esquerdo. Pensou até em grudá-lo com cola superbonder, que figura. Nos despedimos e em uma volta pela cidade passamos na frente do Hostel Che Lagarto, onde conseguimos duas noites free. O pessoal foi muito bacana e o Hostel é uma maravilha.
De noite fomos dar uma volta pelo cais da cidade, tocamos um violão animado e então conhecemos dois caras que passaram por nós caminhando sem rumo. O João, alto magro e loiro e o Edi, baixo, parrudo, negro rastafári.

Grande Edi
  O João de Paraty e o Edi da Ilhas Salomão no pacífico, perto da Austrália. Conversamos muito em inglês e descobrimos que ele era marinheiro e já dera duas voltas no mundo em um barco chamado Hieráclitos, mas que agora estava vivendo em um grande barco de um canadense esperando sua reforma para guia-lo através da costa brasileira. Combinamos então de conhecer este barco no dia seguinte.  Nos despedimos e ele entrou em um pequeno barco e saiu na escuridão sem luz rumo ao Tocorumé Pamatojari, o famoso barco que já foi palco de uma mini-série da globo.

Edi e seu barco na escuridão total
Na manhã seguinte acordamos, separamos nossas coisas e levamos nossos apetrechos para talvez passarmos uma noite em alto mar. Passamos em uma peixaria para comprar camarão para pescarmos e seguimos pro cais. No caminho um ensaio fotográfico artístico sensacional. 

Ensaio artístico

Cais de Paraty

Edi vindo nos resgatar
Chegamos e então avistamos o Edi que encostou no cais para nos levar para o Tocorumé. Barco lindo, pesado, todo feito com madeiras maciças da Amazônia.

Mindu em alto mar

Paraty

Grande Edi

Chegando no Tocorumé

Mastros Tocorumé

Motor brasileiro do pequeno barco

 Ele nos mostrou o motor, o convés e nos deu aulas rápidas de navegação.  Um homem do mar. Não aguentava ficar muito tempo em terra firme que já queria voltar pra água.  Morria de rir vendo o Diego pular no mar e voltar nadando depressa com medo ao se lembrar do filme do Spilberg.

Motor com punhado de cavalos

Baterias - Tocorumé

Interior - Tocorumé

Escada - Tocorumé

Cozinha - Tocorumé

Mesa externa - Tocorumé

Tocorumé

Proa - Tocorumé

Almoço no Tocorumé

O grande salto - Tocorumé

Tocorumé
Fomos em uma praia próxima dali, almoçamos e pela tarde fomos á cidade. Compramos umas bebidas e voltamos trazendo o João que também iria dormir no barco. O Edi ficou bem maluco com a cachaça mineira, gritava sem parar e após algumas músicas no violão fomos dormir do lado de fora, olhando o céu estrelado.
Na manhã seguinte acordamos bem cedo com o sol esquentando nossos motores e fomos dar uma volta de barco até a ilha do Amir Klink. Na volta fui dirigindo o barco e o estacionei ao lado do Tocorumé. O João insistiu em pegar o pequeno barco para ir á cidade buscar comida e outras coisas e então o Edi com receio ligou para seu patrão que liberou a travessia. João saiu antes do meio dia e só voltou ás 03:00h pois o barco tinha encalhado com a maré baixa. Ficamos o dia todo esperando sua volta, sem muita comida e nada pra fazer no meio do mar. A sensação de ficar dentro de um barco muito tempo não me animou muito, você fica limitado a conversar com as mesmas pessoas, a ir a lugar nenhum e então percebi que enquanto Edi é um homem do mar, eu sou do asfalto. 

Mar Adentro

Maravilha

Fugindo do tubarão
No terceiro dia no barco eu estava começando a ficar um pouco angustiado e resolvi ir nadando até a ilha do Amyr Klink. Cheguei lá e me deparei com uma estrutura abandonada de um projeto que não deu certo. Me senti o Indiana Jones desbravando terras inéditas. Voltei e então o Edi ainda esperava a maré subir, pois entraríamos de barco pelos rios da cidade e ele não queria arriscar ficar encalhado. Ele deixou o barco amarrado em um barco de um amigo e fomos para casa do João. 
João fotografando 

Edi no camando

Pra frente e avante

Rio de Paraty

Barco roots - Paraty

Lá conhecemos sua mãe Kátia, muito simpática e hospitaleira. Dormimos três noites em sua casa, e em uma delas assistimos o filme do Edi sobre o projeto com o Hieráclitos ao redor do mundo. O vimos mergulhando com baleias, tubarões e golfinhos na maior naturalidade, daí entendemos um pouco mais sua fascinação pelo mar.
A Kátia nos patrocinou com dez camisetas lindíssimas de sua loja Talismã. Suas duas lojas no centro histórico da cidade são muito bonitas e vendem desde o vestuário masculino ao feminino.  Valeu Kátia pela simpatia e pelas lindas camisetas. Um grande abraço ao João, estudante de arquitetura que nos guiou tão bem pela Viena brasileira. Se bem que quando a maré fica muito alta e invade as ruas da cidade varrendo todo o lixo das vias, não me deixa uma boa impressão higiênica.  Seria diferente se tivéssemos um turismo mais consciente, mais preocupada com o lixo que é deixado pra traz. Um grande abraço ao Edi que trocou tantas ideias diferentes conosco, realmente nos transportou da terra para o oceano com seus inúmeros relatos de um capitão que conheceu quase 60 países pelo mar. Paraty vai ficar na memória.

Casa do João

André, Diego, Kátia e João

Partimos para Angra dos Reis...