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Paraty |
Saímos de Cunha cedo rumo a Paraty, mas antes sabíamos que
teríamos que atravessar a Serra da Bocaina que divide os estados de São Paulo e
Rio de Janeiro. Já no começo da travessia pegamos uma subida bastante inclinada
que me fez crer que não conseguiria terminar todo o percurso. As subidas não
terminavam e o corpo estava sentindo a pedalada forte do dia passado. Após
alguns km encontramos uma cachoeira na beira da estrada, paramos para refrescar
e conheci o primeiro cicloturista da viagem. Um mineiro cinquentão que também
queria chegar a Paraty.
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Cachoeira próxima a divisa com RJ |
Decidimos seguir juntos no ritmo mais lento dele. Empurramos
as bikes, pedalamos e enfim chegamos à divisa. Tiramos umas fotos e começamos a
descer os 20 km de uma estrada de terra que acabou com as pastilhas do meu
freio. No meio da descida paramos em um mirante para comermos umas bananas e
logo tivemos a primeira visão do mar, sinalizando a nova etapa da viagem.
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Descendo a Serra da Bocanha |
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1ªvisão do mar em mais de 2000 km de viagem |
Descemos animados e quando chegamos à cidade procuramos por um supermercado
para comprarmos o almoço. Fui na onda do cicloturista totalmente desleixado com sua
nutrição. Compramos miojo, couple Nudles, feijão enlatado, pães e tomates para
lancharmos na beira da praia. Logo apareceu um nativo e nos ofereceu um teto em
seu lava-jato perto do centro da cidade. Foi lá que fomos dormir a pior noite
da viagem. Jogamos a lona sobre o chão
de terra batido e armamos nossas coisas sobre ela, debaixo de um teto pequeno.
Logo começou uma chuva forte e tivemos que pegar uma enxada para cavarmos valas
ao redor do acampamento para escoar a água. Molhamos bastante, mas nossas
coisas estavam secas. Tentamos dormir e os mosquitos não davam trégua, mesmo
após passarmos os repelentes. O cicloturista reclamava muito e batia com a
camiseta no seu corpo para espantá-los e junto com o Diego resolveram armar a
barraca. Eu preferi ficar de fora dela e dormir sozinho com os mosquitos. Um
erro! Só consegui dormir depois das 6:00h com o sol acordando, quando então
resolvi entrar na barraca.
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Serra da Bocanha |
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1º dia de praia |
Acordamos, começamos a arrumar nossas coisas, lavar a lona e
então o dono chegou. Trocamos umas idéias e pegamos nosso rumo para o
supermercado novamente. Lanchamos e fomos imprimir as fotos que tiramos com o
amigo cicloturista. O seu dente caíra no meio da viagem e o seu sorriso que já
era feio, ficou sem igual, e no meio de uma conversa de telefone com sua mulher
ouvi ele dizendo que iria desistir da viagem pois estava sem o atacante
esquerdo. Pensou até em grudá-lo com cola superbonder, que figura. Nos
despedimos e em uma volta pela cidade passamos na frente do Hostel Che Lagarto,
onde conseguimos duas noites free. O pessoal foi muito bacana e o Hostel é uma
maravilha.
De noite fomos dar uma volta pelo cais da cidade, tocamos um
violão animado e então conhecemos dois caras que passaram por nós caminhando
sem rumo. O João, alto magro e loiro e o Edi, baixo, parrudo, negro rastafári.
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Grande Edi |
O João de Paraty e o Edi da Ilhas Salomão no pacífico, perto da Austrália.
Conversamos muito em inglês e descobrimos que ele era marinheiro e já dera duas
voltas no mundo em um barco chamado Hieráclitos, mas que agora estava vivendo
em um grande barco de um canadense esperando sua reforma para guia-lo através
da costa brasileira. Combinamos então de conhecer este barco no dia
seguinte. Nos despedimos e ele entrou em
um pequeno barco e saiu na escuridão sem luz rumo ao Tocorumé Pamatojari, o
famoso barco que já foi palco de uma mini-série da globo.
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Edi e seu barco na escuridão total |
Na manhã seguinte acordamos, separamos nossas coisas e
levamos nossos apetrechos para talvez passarmos uma noite em alto mar. Passamos
em uma peixaria para comprar camarão para pescarmos e seguimos pro cais. No
caminho um ensaio fotográfico artístico sensacional.
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Ensaio artístico |
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Cais de Paraty |
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Edi vindo nos resgatar |
Chegamos e então avistamos
o Edi que encostou no cais para nos levar para o Tocorumé. Barco lindo, pesado,
todo feito com madeiras maciças da Amazônia.
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Mindu em alto mar |
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Paraty |
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Grande Edi |
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Chegando no Tocorumé |
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Mastros Tocorumé |
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Motor brasileiro do pequeno barco |
Ele nos mostrou o motor, o convés
e nos deu aulas rápidas de navegação. Um
homem do mar. Não aguentava ficar muito tempo em terra firme que já queria
voltar pra água. Morria de rir vendo o
Diego pular no mar e voltar nadando depressa com medo ao se lembrar do filme do
Spilberg.
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Motor com punhado de cavalos |
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Baterias - Tocorumé |
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Interior - Tocorumé |
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Escada - Tocorumé |
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Cozinha - Tocorumé |
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Mesa externa - Tocorumé |
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Tocorumé |
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Proa - Tocorumé |
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Almoço no Tocorumé |
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O grande salto - Tocorumé |
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Tocorumé |
Fomos em uma praia próxima dali, almoçamos e pela tarde
fomos á cidade. Compramos umas bebidas e voltamos trazendo o João que também
iria dormir no barco. O Edi ficou bem maluco com a cachaça mineira, gritava sem
parar e após algumas músicas no violão fomos dormir do lado de fora, olhando o
céu estrelado.
Na manhã seguinte acordamos bem cedo com o sol esquentando
nossos motores e fomos dar uma volta de barco até a ilha do Amir Klink. Na
volta fui dirigindo o barco e o estacionei ao lado do Tocorumé. O João insistiu
em pegar o pequeno barco para ir á cidade buscar comida e outras coisas e então
o Edi com receio ligou para seu patrão que liberou a travessia. João saiu antes
do meio dia e só voltou ás 03:00h pois o barco tinha encalhado com a maré
baixa. Ficamos o dia todo esperando sua volta, sem muita comida e nada pra
fazer no meio do mar. A sensação de ficar dentro de um barco muito tempo não me
animou muito, você fica limitado a conversar com as mesmas pessoas, a ir a
lugar nenhum e então percebi que enquanto Edi é um homem do mar, eu sou do
asfalto.
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Mar Adentro |
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Maravilha |
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Fugindo do tubarão |
No terceiro dia no barco eu estava começando a ficar um
pouco angustiado e resolvi ir nadando até a ilha do Amyr Klink. Cheguei lá e me
deparei com uma estrutura abandonada de um projeto que não deu certo. Me senti
o Indiana Jones desbravando terras inéditas. Voltei e então o Edi ainda esperava
a maré subir, pois entraríamos de barco pelos rios da cidade e ele não queria
arriscar ficar encalhado. Ele deixou o barco amarrado em um barco de um amigo e
fomos para casa do João.
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João fotografando |
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Edi no camando |
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Pra frente e avante |
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Rio de Paraty |
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Barco roots - Paraty |
Lá conhecemos sua mãe Kátia, muito simpática e
hospitaleira. Dormimos três noites em sua casa, e em uma delas assistimos o
filme do Edi sobre o projeto com o Hieráclitos ao redor do mundo. O vimos
mergulhando com baleias, tubarões e golfinhos na maior naturalidade, daí
entendemos um pouco mais sua fascinação pelo mar.
A Kátia nos patrocinou com dez camisetas lindíssimas de sua
loja Talismã. Suas duas lojas no centro histórico da cidade são muito bonitas e
vendem desde o vestuário masculino ao feminino. Valeu Kátia pela simpatia e pelas lindas
camisetas. Um grande abraço ao João, estudante de arquitetura que nos guiou tão
bem pela Viena brasileira. Se bem que quando a maré fica muito alta e invade as
ruas da cidade varrendo todo o lixo das vias, não me deixa uma boa impressão
higiênica. Seria diferente se tivéssemos
um turismo mais consciente, mais preocupada com o lixo que é deixado pra traz.
Um grande abraço ao Edi que trocou tantas ideias diferentes conosco, realmente
nos transportou da terra para o oceano com seus inúmeros relatos de um capitão
que conheceu quase 60 países pelo mar. Paraty vai ficar na memória.
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Casa do João |
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André, Diego, Kátia e João |
Partimos para Angra dos Reis...