O cara nos indicou que havia outro 6 km á frente, antes de chegar numa ponte. Nuitas pessoas tem o senso nulo de distância entre dois pontos. Sempre que precisamos de informação, nunca a levamos ao pé da letra e no caso de uma projeção de distância, sempre contamos com uns quilômetros a mais nos palpites. Os caminhoneiros são os reis das estradas. Ciclistas, devido ao velocímetro, á velocidade e a maneira como se locomovem, são os que mais conhecem sobre as pequenas e médias distâncias entre os lugares; faltam responder em metros uma distância em quilômetros. Pedestres muitas vezes fazem a conta errada, agora muitas mulheres às vezes não tem noção nenhuma. Sem machismo! Enfim seguimos o caminho e pensamos que se chegássemos neste terceiro restaurante, e não houvesse comida, estaríamos um pouco encrencados. Passamos os 6km e quando chegamos no décimo imaginamos se o cara simplesmente não poderia ter errado, ou se por falta de atenção tínhamos passado por ele, que poderia estar fechado e nós não o notamos. Continuamos pouco receosos mas logo depois de 3 km chegamos ao restaurante na beira do rio que estava fechado. Só tínhamos R$ 20,00 em uma única nota e eu resolvi dar um pulo no rio, esfriar o corpo e esperar um pouco, ao invés de continuar. O Diego cogitou seguir mas como não tínhamos como dividir o dinheiro ele ficou. Ao voltar a mulher tinha chegado e nos fez dois pratos enquanto o marido ligava o reggae na maior altura possível e tomava whisky com red bull para começar a labuta. Chegou um pessoal morrendo de sede depois de um dia inteiro de Lei seca e após terminarmos o almoço janta só queríamos descansar. Estava escurecendo e perguntei ao dono se podíamos dormir em seu estabelecimento e ele nos emprestou uma casinha sua logo acima. Um funcionário nos levou lá e montamos uma barraca dentro de uma casa de barro super quente, cheia de mosquitos e morcegos e sem janelas. Resolvemos então dormir do lado de fora.
No outro dia tocamos em ritmo acelerado após o lanche matinal com nosso mix, leite em pó e água. Após os primeiros 40 km nos vimos na mesma situação, só que agora com R$ 4,00 no bolso e uma fome de ontem. Nenhum lugar passava cartão e depois de muito sol intenso a frentista do posto disse que na cidade a frente passava cartão. Descemos uma boa ladeira e ao chegarmos em outro posto, outra pessoa disse que não passava o dinheiro de plástico e o melhor que tínhamos que fazer era subir de volta a ladeira atrás de uma pousada beira de um rio para banho que tinha a máquina. Chegamos verdes e embora o cardápio caro, já de começo foram dois mistos e 3 achocolatados pra mim. Tomamos um belíssimo banho no rio e ganhamos uma cortesia do almoço. Foi muito especial aquele momento, demos muito valor aquela comida, aquele lugar, e voltamos semi novos para a estrada. Chegamos de noite na pequena cidade e fizemos um belo lanche em um supermercado. Compramos o kit mix café da manhã completo e seguimos para um posto de gasolina tentardormir. No meio do caminho vi uma pousada e tentei uma cortesia, mas o cara, muito simpático, estava com sua casa cheia e nos indicou um pequeno hotel. Lá felizmente conseguimos uma pernoite no menor quarto do mundo. Uma rede em cima de uma cama, um ventilador e só. O quarto estava bastante quente mas não tive problemas em dormir. O Diego acordava toda hora para assassinar mosquitos e jogar água no corpo e no chão do quarto para refrescar.
Dia seguinte, tomamos o café e seguimos poucos quilômetros para um posto onde íamos pegar carona para entrar em São Luís. O cicloturista Kico Zaninetti (http://alunodaestrada.com/) disse que foi o pior trecho que ele pegou em quase dois anos de viagem. Acostamento horrível, muito caminhão etc... Conseguimos uma cortesia com o almoço horroroso do posto e depois continuamos a tentar carona com todos que chegavam. Até que um cara mal humorado com uma caminhonete bem velha não conseguiu nos falar não e levou-nos para a capital do maranhas. No caminho não trocamos uma palavra e nem nos despedimos quando ele parou em seu destino final. Estávamos finalmente em São Luís.