segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Chaval - Parnaíba - Tutóia



Encontro cicloturístico

Despedir de Jericoacoara não foi fácil. Para mim o local mais sensacional da viagem. Penso que nem é muito bom ficar exaltando-a para não a encher demais de turistas nos próximos verões. Ainda mais depois que o aeroporto da região ficar pronto. Quando fui pegar a bike para arrumar as coisas o pneu estava furado. Remendei o furo e ao colocar a roda no lugar não consegui apertar a rosca do eixo com a grampola, estava espanado. Tentamos algumas alternativas e vimos que teríamos que arrumar outro eixo em Jijoca.

D-20
Pegamos uma D-20 para atravessar as dunas e logo estávamos em Jijoca de Jericoacoara. Fomos para a loja recomendada e estava fechada para almoço. Bati na porta para guardar a bicicleta e sairmos para almoçar também. Na volta o cara foi muito simpático e seu funcionário fez de tudo para nos ajudar. Por muita sorte, já que na cidade não tinha peças para bicicletas mais sofisticadas com 27 velocidades como a minha. Ele tinha um eixo usado quase idêntico ao meu e me deu. Eu tinha que trocar os raios e para isso ele tinha que tirar as coroas, mas infelizmente não tinha a chave certa. Tentou tudo que pode, inclusive batendo com uma chave de fenda para rodar a coroa menor e então tirar todo o conjunto das 9 coroas e vi que por mais que ele conseguisse tirá-la, não iria conseguir apertá-la que é o mais difícil. Segui com os raios velhos mesmo.
Estávamos no pedal novamente. Muitos dias sem pedalar e como sempre, sentíamos os músculos se acostumando lentamente ao processo. E não pedalamos mais do que duas horas e revi um filme. Os raios da minha roda, desgastados e carcomidos pela maresia, cedendo um por um até a roda ficar tão torta e começar fazer rotações tão irregulares que o pneu começou a pegar no quadro. Sorte que estávamos perto de um posto de gasolina onde paramos para tentar carona para a próxima cidade em busca de uma bicicletaria. Rapidamente conseguimos subir em um caminhão que transportava cervejas e que nos deixou em frente a principal loja da cidade. Já tinha comprado raios inox, óleo para corrente e na loja comprei rodas novos já que a traseira tinha quebrado em uma das extremidades de um raio e novos pneus também.  Foi o maior gasto com peças que tive na viagem. R$ 150,00. O mecânico era bom e o trabalho ficou quase 100%, só não foi completo, pois quando já a 2 km da loja percebi que estava com o velocímetro sem marcar a velocidade. Ele esquecera de colocar o imã no raio para marcar as rotações! Voltei, ele arrumou, nos despedimos novamente e até que enfim pegamos estrada sentido Barroquinha.

Trocando rodas, raios e pneus
Chegando lá paramos para um sorvete em frente a uma escola onde conseguimos água e os alunos por detrás da grade ficavam nos chamando para esconder a cara quando olhávamos para trás. Pagamos e iniciei o pedal na frente e pouco mais adiante o Diego gritou para eu esperar. Ele viu uma bike cheia de bagagens com uma bandeira do Chile e do Brasil do outro lado da pista. Era o “chileno” que tínhamos ouvido falar algumas vezes durante o percurso. Estava indo no mesmo sentido que agente e tinha parado numa lan house para se comunicar com uma pessoa que iria hospedá-lo em Parnaíba. Trocamos várias figuras,  fizemos uma entrevista com o César e fomos em um ritmo lento até Chaval. A bike dele era bem mais pesada que a nossa, com um guidão mais alto e o banco mais confortável. Ele preferia uma pedalada mais lenta e estava mais de dois anos na estrada, com 14.000 km percorridos com sentido ao México, onde tem alguns amigos esperando e pretende viver por um tempo.


Chegamos em Chaval quase de noite e lá o Diego, como de praxe, foi atrás de um jantar e eu preferi um lanche. Tomei vários sucos e conheci um senhor muito simpático que me ofereceu sua casa para pernoitamos. Fomos pra sua casa humilde vizinha de parede de uma igreja evangélica em pleno culto ensurdecedor onde dormimos.

Dormindo em Chaval 
No dia seguinte tomamos café com o senhor e conhecemos o redor de sua casa cheio de pedras e com um visual diferente do que estávamos acostumados. Tiramos uma bela foto, deixei minha raquete de frescobol com a bolinha para seus filhos e seguimos em direção ao delta do Parnaíba. Entramos no Piauí, no meio da caatinga seca e muito sol e fomos devagar até um restaurante beira de estrada onde chegamos com muita fome. Estávamos sem nada de dinheiro e o César nos emprestou R$ 7,00 para eu e Diego almoçarmos e tomarmos 2 litros de suco de manga e goiaba deliciosos. Após o almoço o César foi dar uma esticada enquanto nós ficamos conversando.

Chaval - CE

Chaval - CE

Filhos do senhor simpático

Casa de barro 

Família e vizinhança reunida
Chegamos em Parnaíba e nos despedimos de nosso amigo que tinha um pouso certo. Tiramos dinheiro fiz uma pequena compra, internet, venda de adesivos, jantar e colchão num posto de gasolina cheio de mosquitos. No meio da noite acordo com uma puta agachada olhando pra mim dizendo: “ Que que isso?”e rapidamente “E aí, vamos namorar um pouquinho?” Acordei meio assustado de um sonho e respondi que estava dormindo e então ela seguiu para o próximo caminhoneiro rapidamente e bateu em sua porta. O cara acordou e disse que era melhor ela ir dormir. Em sua terceira tentativa, ouvi alguns ruídos e risos e acho que ela conseguiu o que queria. Deveria ser mais uma pobre coitada viciada em crack, um dos problemas mais graves do Brasil hoje em dia. Acredito que a lei deveria ser muito mais severa para o traficante desta pedra maldita.

Divisa Ceará - Piauí

Divisa Piauí - Maranhão
No outro dia entramos no último estado do nordeste, o Maranhão. Paramos para um caldo de cana e a primeira pergunta que fiz para um maranhense foi sobre a política e a resposta foi que as coisas estavam melhorando, a estrada era nova e coisas do tipo. Após o almoço em um posto uma bela garota começou uma conversa comigo enquanto o Diego tirava um cochilo na rede. Ela disse que eu parecia um ex-namorado dela  baiano que a engravidou no Rio de Janeiro. “Como nenhuma firma aceita gente grávida...” ela logo teve que vir de volta para sua terra com o segundo filho. Pensou até em “dar” o menino para um hospital ou deixa-lo na porta de alguém, mas disse que se tivesse feito, teria hoje se arrependido muito. Não usou camisinha para fazer de um jeito que o baiano nunca mais esquecesse e se apaixonasse por ela. Deu no que deu. Não trabalha e vive com a mãe que também não trabalha e vive as custas do marido que deve trabalhar literalmente como um condenado.
Era época de eleição e o posto de gasolina estava cheio de automóveis em fila para encher o tanque por conta da atual prefeita que queria se reeleger. De noite teria comício numa cidadezinha perto e a bela moça ali estava para pegar carona e poder se distrair um pouco. Ela não pegava carona com qualquer um pois histórias de estupro com requinte de crueldade assombravam a região. Disse que para ir para as festas, as garotas tinham que se sujeitar ao que o dono do transporte quisesse pela carona, e ela não gostava disso. Contou sobre uma garota com menos de 15 anos com AIDS que após saber da doença fazia sexo com muito mais frequência. Perguntei sobre seu sonho e a senhorita romântica queria um amor eterno desses de novela que ela via todos os dias. Perguntei se o pai sabia da existência do filho e ela disse que sim mais não queria assumi-lo. Disse também que tinha medo de ir ao Rio sozinha e o baiano mandar matá-la. Essa história me fez lembrar a do goleiro Bruno e imaginei se seria muito excesso de televisão em sua cabeça ou se realmente o baiano seria capaz de tanto.

A bela moça
Acho que por ter sido simpático e a ter escutado e dado atenção por mais de uma hora e por talvez ser parecido com esse baiano percebi que ela gostou muito de mim até ela me convidar para sua casa que ficava á 10 km de estrada de terra dali. Disse que infelizmente tinha que seguir meu caminho e deixei meus contatos virtuais. Disse pra ela ser forte e tentar uma vida diferente em outro local com mais oportunidades. Tiramos uma foto e nos despedimos. Comecei a sentir um ódio tremendo por todos os políticos sarnentos que roubam a vida de milhões de brasileiros. Cadeia de poucos anos depois desse julgamento do mensalão é uma carícia na cabeça desses ordinários, cassação de mandato de Roseana Sarney é uma piada. Se fosse em outros países como a China por exemplo, o final era outro.

%$%¨#$$@#$

$#@%&*@#$
Na próxima cidade que paramos para tomar um refresco, entramos numa espécie de bar onde tinha muitas meninas novas com marmanjos se agarrando e preferimos ficar do lado de fora. Então uma menina bêbada, com os dentes podres veio conversar com agente um monte de asneira. Que tristeza! Seguimos viagem novamente e quando a viagem passa dos 100 km começa a ficar bem  cansativa. Chegamos numa cidadezinha onde jantamos 4 coxinhas por falta de opção e dormimos atrás de mais um posto. Que dia comprido.

Repouso merecido
Acordamos e seguimos os últimos 30 km para ..... de onde pegamos um Jipe por R$ 50,00 com muita negociação para Barreirinhas. Na viagem de quase 3 horas fomos contemplando a mudança da vegetação contínua até chegarmos nas dunas dos Lençóis maranhenses, o cartão postal do Maranhão...




Nenhum comentário: