sábado, 10 de novembro de 2012

Vitória do Mearim - Santa Inêz - Imperatriz - Porto Franco - Carolina


Dando adeus ao litoral
Domingo, dia 14 de outubro, me preparei para deixar o litoral. Foram quase 11 meses, desde 22 de novembro quando chegamos a Paraty, aprendendo a viver perto do mar. Uma nova etapa da viagem começou e o destino era a Chapada das Mesas na divisa com o Tocantins. Despedi do pessoal da Pousada Porto e segui para a rodoviária onde peguei um ônibus para Vitória do Mearim - MA. Não queria pedalar um dos piores trechos do Brasil e na pequena cidade morava um amigo nosso de Goiânia, Aaron. Lembrei o tanto que é ruim viajar de ônibus e depois de mais de 3 horas tinha chegado à cidade. Eu liguei algumas vezes, mas ele não me atendeu, eu também tinha deixado meu número do celular no Facebook dele, para quando ele entrar tentar ligar pra mim, mas também não tinha recebido nenhuma ligação. Resolvi tentar algumas cortesias em pousadas perto da rodoviária. Sem sucesso! Até que então fui dormir em um posto de gasolina mesmo e quando peguei a chave para tomar um banho Aaron me ligou. Que bom! Encontrei com ele perto de sua casa e logo estávamos em sua cozinha trocando várias ideias. Seu pai, piloto de avião agrário, saiu do banho e parecia o Homem das Neves com tanto pelo que tinha. Fomos dormir no ar-condicionado e demorei muito a dormir devido aos mosquitos em busca de meu sangue novo.

Família Aaron
No dia seguinte o pessoal acordou ás 4:00h para trabalhar com o avião e eu fiquei dormindo mais um pouco e lanchamos juntos ás 8:30 quando eles voltaram. Resolvi ficar mais um dia e conhecer o trabalho deles. De tarde Aaron e um funcionário foram fazer manutenção no danado e eu fui filmando tudo. De noite demos uma volta na cidade e na hora de dormir Aaron me deu um comprimido para facilitar o repouso. Pra quê! No outro dia acordei grogue, falando lento e sentindo o corpo cansado. Dormi até ás 8:00 h tomamos um lanche reforçado e peguei estrada já de tarde ás 10:00h. Um grande abraço pessoal, muito obrigado pela estadia.


 Foi muito cansativo, pedalei 120 km debaixo de sol até Santa Inês, com a bike mais pesada com alimentos, refil de gás e recipientes para cozinhar. Fiz um macarrão com proteína de soja em um posto de Gasolina e de noite cheguei em outro posto para dormir. Muito calor, mas consegui dormir até ser acordado no dia seguinte pelo barulho dos motores. Desmontei a barraca, arrumei as coisas e parti. Peguei um trecho muito difícil, com subidas íngremes em sequência, e sem opção de comércio e poucos povoados. Após 30 km resolvi parar em um vilarejo para tomar algum líquido. Acabei sendo convidado a almoçar com um pai de família, que estava com olho machucado, pois tinha entrado um galho quando limpava seu lote no dia anterior. Comemos arroz, sardinha e salada e escutei um pedaço da vida deles. Disse que não tinha emprego naquelas bandas e quando tinha, era de limpar lote para a prefeitura por R$ 25,00 por dia. Que graças a Deus recebia R$ 200,00 do Bolsa Família que ajudava nos gastos com a casa e com a filha mais nova que recentemente descobriu que tinha diabetes. Ele me disse que o caminho pela frente era muito deserto e achava melhor eu pegar uma vã até Buriticupú que já saiu no Jornal Nacional como uma das cidades mais violentas do Brasil. Resolvi assim fazer. Fui pra estrada tentar uma carona, ou pegar uma vã e em menos de cinco minutos uma parou para me dar assistência. Desmontei as coisas e coloquei no bagageiro traseiro da vã e a bike ia dentro do lado dos bancos. A perna do cobrador infelizmente ficou toda suja de graxa pois toda vez que alguém ia descer, nós tínhamos que descer a bicicleta. Mas enfim cheguei a Buriticupú, uma cidade bem esquisita. De lá o trecho era muito acidentado para Imperatriz, então também resolvi pegar outro ônibus para não dormir por lá. Cheguei a Imperatriz de noite e fui em busca de uma pousada para dormir uma noite free. Não consegui nos arredores da rodoviária e segui para o centro. Parei em outro hotel que não foi possível e um cara queria me ajudar foi me levando para dormir junto de uns mendigos, mas preferi seguir para outro posto. Tentei mais outra pousada em vão e então parei em um posto que tinha bastante caminhoneiro. Mal cheguei e um cara veio andando, pegou algo debaixo de uma pedra e começou a fumar. Ele logo disse para mim não assustar, que era borracheiro e também dormia por ali. Me apresentou para o segurança que me deixou a vontade mas disse para tomar cuidado com as minhas coisas, pois ali tinha muitos ladrõezinhos. Arrumei a barraca e fui tomar banho e lavar minha roupa de bike. No meio do banho um velho começou a conversar torto comigo, e como a porta estava quebrada, percebi que não tirava o olho de mim, vi que algo estava errado até que ele perguntou:  "Estou te atrapalhando?". Fui educado e disse que não, mas tinha que ter dito que sim, pois passou poucos segundos e ele abriu a porta com cara de bixa. Gritei com o desgraçado, que saiu voado do banheiro. Fiquei puto com a situação e só pensava em seguir meu caminho no dia seguinte. Acordei em um clima nublado, na beira de uma BR lotada de caminhões. Tomei meu café da manhã reforçado em um supermercado, peguei uma grana e estrada. O próximo destino era Porto Franco. No caminho fui ouvindo música e nas partes mais difíceis, colocava um Racionais ou um Metallica, para dar mais força no pedal. Parei para tomar um guaraná da Amazônia e um goiano parou para conversar, pagar minha bebida e me dar R$ 20,00 para seguir. Nem saí da barraca do guaraná e outro cara parou para me conhecer, me deu um saco de pó de guaraná e outro de amendoim, tiramos uma foto e me explicou melhor sobre o caminho. Muitas subidas pela frente!

Amigo de Imperatriz
Mas na frente outro cara me parou, tiramos fotos e ele me deixou uma barra de cereal e mais R$ 10,00. Bom demais, como diria um professor meu. “ Tem diabão e diabim”. Final de tarde cheguei a Porto Franco, parei para comer um espeto e resolvi pagar uma pousada para dormir. Não queria me preocupar com desarmar todas minhas coisas, armar barraca, encher o colchão, camuflar a bicicleta numa lona e dormir numa cama de 55 cm sem lençol, no mormaço de uma barraca, ao som de motores e pessoas. Também queria tomar um simples banho em um banheiro decente sem cheiro de urina e fezes. R$ 20,00 com uma cama de casal e um ventilador na terceira velocidade. Ótimo! Nem lembro a última vez que tinha pagado para dormir, desconfio que só na Bahia no começo do ano. Descansei bastante para no outro dia seguir até Estreito e virar para começar as infinitas ladeiras da Chapada das Mesas.

Chapada das Mesas
Há muito não usava a marcha mais leve em subidas sequenciais á 6 km/h no sol a pino. A bike mais pesada como nunca, com os cubos da roda com 10.000 km rodados, eixo da roda torto, e sozinho. O caminho foi um tapete. A rodovia recentemente restaurada, com acostamentos largos, e o visual característico de uma Chapada. Várias montanhas com o formato parecido com um chapéu, nome do morro mais conhecido da região. Vi uma cascavel enorme atropelada no acostamento, e foi bom para me lembrar que elas existem. Parei para refrescar em um rio e fui alertado da presença de arraias por ali. Para evitar pisar em seu ferrão fui arrastando o pé na lama sem subir e descer, como em uma passada normal, até o meio do córrego longe das ferroadas. Fiquei conversando com um cara que levara seu filho para passear na estrada e me deu um raio-x do caminho.

Acampamento beira do Rio Farinha

 A próxima parada foi na beira do Rio Farinha onde escolhi para fazer o acampamento, próximo a um barraco de uns trabalhadores que recuperavam a rodovia. Levantei barraca, armei a rede, organizei os utensílios para fazer a janta, tomei banho rápido para terminar tudo antes de escurecer e quando sentei na rede na altura ideal para trabalhar o rango, começou a subir dezenas de formigas lava pés para me jantar. Tomei várias picadas e tive que mudar a cozinha para outro lugar. Que mierda! Depois que terminei o macarrão já estava escuro e a lanterna acesa na cabeça atraia insetos do mundo inteiro que inclusive caiam em meu macarrão. Deixei a luz de canto e comi sem ver o que estava comendo, depois pedi água para o pessoal e fiquei 6 horas lendo um livro até conseguir dormir. Acordei no meio da noite com trovoadas, mas felizmente nada de chuva, que só veio cair de manhã. Acordei rápido, coloquei tudo embaixo da lona e fiquei lendo até umas 9:00 h quando saí. Mas algumas pedaladas firmes e mais tarde estaria enfim em Carolina...
Chapada das Mesas



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