quinta-feira, 29 de março de 2012

Trancoso e Arraial D'Ajuda



Arraial D'Ajuda
Por Diego
No dia 6 de Janeiro depois que todos foram embora, resolvemos ir para Trancoso na expectativa de conseguir um trabalho, seja ele qual fosse. Eu e o André fomos pedalando pela praia e a Érika foi no ônibus levando as malas. Trancoso é lindo, as praias são maravilhosas e não temos o que reclamar das pessoas de lá, mas depois de alguns dias percebemos que o melhor era voltar para Arraial d’Ajuda. Tinha alguma coisa pesada em Trancoso, a energia dessa cidade é muito forte e buscávamos algo mais tranquilo. Alguns dizem que o quadrado já foi palco de vários encontros indígenas, onde se realizavam festas. Falam também que os portugueses tentaram descer por lá, só que devido as falésias e a não aceitação dos índios, os portugueses desistiram da ideia de descerem ali e nisso ficaram “trancados”. Isso é uma teoria da origem do nome Trancoso.

Quadrado - Trancoso
Arraial d’Ajuda foi a cidade que passamos mais tempo na viagem, eu fiquei exatos 45 dias dos quais 25 deles trabalhando de garçom na praia do mucugê. Trabalhei em uma barraca chamada Dourado Bar e Restaurante. Com um pessoal muito massa, sempre fazíamos algo depois do trampo, jogávamos futebol, mergulhava e remava em caiaques. Claro que na maioria dos dias entrava no mar antes e depois do expediente. Vez ou outra ficávamos no bar para tocar um violão e beber muita caipirinha. Um abraço para todos.

Adriano e Darley a dupla de sucesso

Final de expediente

Gostei muito da cidade, tem praias lindas, rios, falésias, muito verde e um astral incrível. Fomos muito bem acolhidos na cidade e sempre conhecíamos gente nova. Inclusive turistas de todo lugar do Brasil e do mundo. Além dessas pessoas sempre aparecia um goiano aqui outro ali para ficarmos ainda mais a vontade. A última galera que passou por lá ficou na nossa casa alguns dias. Goianada quente, Fernando, Danillo e Renan, o trio ternura, passou o verão trabalhando em Porto Seguro e depois foram descansar uns dias em Arraial. Um salve pro trio. Os detalhes de Arraial quem contará é o André.

Seguindo para Trancoso
Por André Roriz

Arraial D'Ajuda
Cheguei em Arraial D’Ajuda dia 02 de janeiro depois de 80 km de pedal de Caraíva. Conheci toda a família do Diego, muito simpática, nos alojamos em uma casa de veraneio que eles alugaram no fundo de um restaurante conhecido da cidade. Comemos do bom e do melhor, dormimos dentro de um quarto com ventilador e colchão para todos, banho quente e tudo mais que uma casa boa pode oferecer. Jogamos baralho, comemos vários petiscos que o Luzette, pai do Diego preparava, jantamos lasanha da Clara e a comida deliciosa da Luci, mãe do Diego. Foi muito bom, me senti fazendo parte da família, grande abraço para todos.

Casa em Arraial D'Ajuda
Dia 04 de janeiro os amigos goianos continuaram subindo o litoral baiano, dia seguinte minha namorada chegou na cidade, dia 06 toda a família do mindu voltou para Goiânia e nós tivemos que deixar a casa e continuar na sequência pedalar é sofrido. Tínhamos que arrumar um trampo e imaginamos que o local ideal seria no quadrado de Trancoso. Muitos restaurantes, perto de praias belíssimas e com um turismo com dinheiro. Arrumamos as malas e as deixamos dentro do ônibus para Erika levar e nos esperar em Trancoso enquanto seguíamos pedalando 16 km pela areia com o sol se pondo.

Praia dos Pescadores
No meio do caminho havia várias pedras, havia várias pedras no meio do caminho e era impossível seguir de bike mesmo com a maré baixa. Desmontamos nossas coisas e tivemos que escalar as pedras com bike e malas, em duas viagens. A noite chegando, a maré subindo mas logo chegamos a Trancoso. Fomos em um local que nos foi indicado para conseguirmos uma cortesia e acabamos dormindo no quintal de uma casa em construção. No outro dia fomos para a praia dos Coqueiros e depois fomos procurar uma casa para alugarmos um mês. O movimento estava fraco e imaginamos que seria difícil arranjar um trampo. Conseguimos um local afastado do quadrado mas bem perto da praça e os mercados mais baratos. Subimos uma escada íngreme com a geladeira, arrumamos tudo, escolhemos os quartos e enfim estávamos instalados.

Caminho para Trancoso

1ª noite em Trancoso
 De noite fomos ao quadrado, neste horário o local fica mágico com a iluminação amarela e colorida dos estabelecimentos. Duas “ruas” paralelas com vários restaurantes convidativos e no final uma igreja linda do século XVI. Este é o quadrado. Atrás da igreja o infinito do mar num plano bem mais baixo que o da cidade. O nascer do sol ali é incrível. Conhecemos um capixaba muito louco que ficou explanando horas sobre suas aventuras psicodélicas na Universo Paralelo. Na verdade a cidade inteira era uma ressaca do maior festival de música eletrônica da América do Sul. Como não gostamos muito de batestaca e de conversas muito distantes da realidade coletiva, isso nos desanimou um pouco. Voltando para casa vimos um cara alvejado na frente de um supermercado ao lado de nossa casa. Dívida de droga! Diga-se de passagem que o crack está eliminando o cérebro da juventude brasileira. Para manter o consumo é preciso roubar e trazer a violência para locais turísticos, cartões postais do Brasil como Trancoso, Rio de Janeiro, Itacaré e uma infinidade de cidades maravilhosas.

Músicos tocando na rua no Quadrado

Bagagens e compras
Vi uma Trancoso bem mais caótica da que conheci ano passado. Não sei se pela condição financeira precária atual ou por que coloquei expectativa demais na cidade, só sei que desfizemos o contrato verbal com a locatária baiana e partirmos de volta para Arraial D’Ajuda. Voltamos de Trancoso dia 10 e começamos a procurar um local para ficarmos. Chegamos ao restaurante onde a família do Diego alugou uma casa e perguntamos por um local gratuito para dormirmos. Eles nos mostraram um quarto no fundo de terra batida, sem janela e com muito mosquito. Ficaríamos ali se não achássemos nada melhor. Queríamos alugar uma casa por um mês para trabalhar e focar na elaboração do projeto Pedalar é Preciso 2012.

De volta para Arraial
Procuramos por dois dias e então conseguimos uma bem perto do centro por R$ 550,00 com água, energia, geladeira, fogão com uma boca, 3 quartos, mosquiteiro e mosquito. Ficava no segundo andar na casa da família da Tia Lú, dona da pousada ao lado. Muito hospitaleira, nos abrigou bem, mas a casa tinha uma escada para o segundo andar e podíamos ouvir tudo o que acontecia lá embaixo. Volta e meia eles reclamavam do barulho que fazíamos e nós escutávamos as brigas por causa do uso do chuveiro elétrico entre outros motivos. Outro dia levamos um mergulhador que conhecemos para tomar uma, o cara ficou tão barulhento que a Tia Lú saiu gritando lá fora para que o cara tomasse seu rumo, imaginando que ele iria dormir ali. Ela disse para eu cooperar já que sua mãe, já bem velha, tinha problemas mentais e tomava remédio caro para dormir e ficava agitada enquanto fazíamos barulho no andar de cima. Não queríamos atrapalhar, mas ao mesmo tempo tínhamos que tocar violão e ensaiar um repertório para tocar de noite, o que fazíamos muitas vezes do lado de fora da casa. Mas fora que a casa ficava perto de um mata produtora de milhares de seres animados que vivem um dia para sugar sua paciência, e que de dia devido ao sol baiano, as paredes finas e o telhado sem forro a casa virava um forno, nossa estadia por lá foi uma maravilha.

Casa em Arraial D'Ajuda

 Na rua de cima ficava a pousada da Malu onde eu me hospedara ano passado e ficara amigo dos donos Malu e André. Lá sempre hospedava uma galera massa e tivemos a oportunidade de levar um som com uma banda do mato grosso, Mato Soul, com várias composições boas. Também conheci dois italianos que se conheceram na pousada. O mais novo, Hamines, do norte da Itália, nasceu em uma região pouco povoada no alto das montanhas e chegara no Brasil para conhecer toda América do Sul. Chefe de cozinha, gostava de música eletrônica, tinha ido na Universo Paralelo conhecer o bate estaca brasileiro. Segundo ele é muito bom. Que bom!

Ganhando uma partida de xadrez
O mais velho, Anselmo, do sul da Itália, era mestre de Xadrez e me ensinou a perder várias vezes. Fumava muito tabaco enrolado no papel e por ter um problema de pele em uma das pernas, evitava o sol. Várias vezes eu passava em frente a pousada e lá estava ele sentado na mesma cadeira solitária, fumando, e jogando algo. Não falava inglês e muito pouco português. Nossa comunicação era difícil mas nos comunicávamos como era possível. Lhe mostrei muita música brasileira e ele gostou bastante. Um dia fui com ele tentar resgatar um dinheiro que seu pai lhe “enviara”, mas ele não sabia o banco. Tentamos saber em vários bancos o destino do dinheiro mas logo percebemos que ele teria que realmente fazer uma ligação internacional para seu pai e perguntar melhor sobre a transferência. No final das contas eu tive que lhe emprestar R$ 40,00 para a ligação, almoço, balsa e... finito this problema.

Mandando um som com a banda Mato Soul - Pousada da Malu
 De noite algumas vezes fui para o Morocha Club. Uma espécie de boate aberta de um argentino, sem taxa de entrada e cheia de chicas. Todos os dias a discotecagem era com as mesmas músicas brasileiras, o Reggaeton e a Cumbia. As duas bandas que sempre faziam cover de rock eram muito boas, mas o consumo era caro. E na famosa rua Mucugê, onde se abriga o Morocha é proibido a circulação de vendedores ambulantes e o consumo de bebidas só pode ser exercido dentro dos bares e restaurantes ou na praça central perto da rua broaduei onde ficam os bares mais baratos e as barraquinhas de drinks. O jeito era levar algo para preparar em casa e burlar o sistema com algo preparado no bolso. Dinheiro estava cada vez mais curto.
 De dia a praia mais próxima era a Mucugê, muitos restaurantes na beira de um mar bem calmo, quente e azul. A Pitinga, que fica após o rio, é mias vazia do que a Mucugê e com estabelecimentos maiores. Conhecemos também a praia dos pescadores, mais tranquila e com apenas dois restaurantes. A Praia do Taípe é a mais linda, em frente a um morro avermelhado, com um turismo mais seleto e o mar mais agitado que o da Mucugê. Em quase 45 dias em Arraial D’Ajuda, fez sol todos os dias, com chuvas de 2 minutos de madrugada para umidificar o ambiente. Um paraíso tropical que vale a pena conhecer. Dia 11 de fevereiro seguimos para Porto Seguro através de uma balsa. Iríamos começar a jornada para Itacaré mas não antes de presenciar uma cena lamentável e cômica de uma mulher muito crazy que ficou seminua na entrada da balsa, fechando o portão, batendo nos guardas até derrubar o portão no chão. Que loucura!

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