quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

São Thomé das Letras



Casa dos Ventos
Dia 15 de novembro pegamos estrada para São Thomé Das Letras, a quarta cidade mais alta do Brasil. Sabíamos que os últimos 3 km seriam um paredão vertical. No caminho fomos devagar e em uma das descidas o mindu perdeu o freio e parou no pé. Um perigo! Tivemos que descer empurrando, mas logo o freio voltou ao normal. A chuva começou devagar e paramos debaixo de um teto para esperar. Só víamos pessoal com vestimentas da cor do reggae descendo de São Thomé, dread locks e a galera do verde way of life. 


Marketing da Ambev


Vendinha roots


São Thomé das Letras
Passamos por uma espécie de pousada misturada com sociedade alternativa para experiências transcendentais e então começamos a subir a derradeira. 


Fundação Harmonia de Artes & Conhecimentos Transcendentais
Logo no começo um grupo de paulistas pararam para conversar com a gente e nos relembrar que a subida seria difícil. Um deles tinha quebrado o fêmur, pois tinha caído da bicicleta... parada. Acontece em qualquer lugar e com qualquer pessoa, inclusive em São Thomé. Tiramos umas fotos e continuamos a subida.


Galera paulista
Não teve jeito, tivemos que empurrar e por nós passou um caminhão carregando as famosas pedras de São Thomé quase mais devagar que a gente. Logo mais na frente o caminhão parou e achamos que foi para nos dar uma carona, mas na verdade ele estava sem diesel. O motorista era vereador da cidade e foi muito simpático. 
Caminhão sem diesel
Caminhoneiro, vereador...
Enquanto conversávamos, carros com adesivos de nave espacial subiam a serra devagar aumentando a expectativa de conhecer uma cidade tão excêntrica.
Chegamos no topo debaixo de chuva e com uma ventania forte para dar um tom mais cinematográfico de nossa chegada. Paramos debaixo de um teto ao lado de uma barraca com 3 pessoas dentro de quem conhecemos apenas as vozes. Conhecemos um francês e um mineiro que iam fazer uma viagem de bicicleta sem marchas por Minas Gerais. No final de nossa conversa eles nos convidaram para tomar o Daime de noite em uma igreja no pé da serra. 


Mindu e os futuros cicloturistas de barra circular
Entramos na cidade, viramos a direita na pousada do ET e conseguimos nosso almoço no terceiro restaurante. Fomos a uma lan-house para contactarmos o Mandi, escalador conhecido de uns amigos do Mindu. Encontramos com ele e o seguimos até sua bela casa toda feita de pedra no alto da cidade. Fomos muito bem recebidos e nos hospedamos em um quarto no segundo andar com a vista mais incrível da viagem.


Família bacana
Sua mulher Ametista fez uma bela janta e os dois têm uma menininha linda. Ele foi trabalhar na pizzaria do pai e nós fomos conhecer a igreja. Conversamos com uma das responsáveis e ela nos deu um breve relato sobre a polêmica bebida indígena. 


Descemos a pé mais de 2km até o local. No caminho um grupo deles passou por nós e levou nossa mochila, iríamos dormir por lá se não houvesse carona de volta. A igreja feita de bambu era muito clara com fitas azuis e brancas no teto e com várias imagens no centro e nas paredes. 


Carona final de fusca
Conhecendo a igreja
Interior da igreja

Fornalha
Fornalha
Conhecemos o forno que eles construíram para produzir a bebida e aguardamos o início do ritual.
Sentamos em uma roda e cantarolamos alguns hinos até tomarmos a primeira dose e continuamos cantando. Tomamos uma segunda dose mais forte e as luzes se apagaram para se estabelecer o silêncio necessário para uma elevação espiritual. Cada qual a sua maneira. Senti a necessidade de ouvir uns mantras para facilitar a concentração e os mosquitos me atrapalharam um pouco. Foi uma experiência única, difícil de ser redigida em um canal público. Me senti mais integrado com o mundo, a natureza, e a condução devagar da minha respiração me ajudou a chegar numa sensação de pureza interior. Houve uma terceira dose mas nós preferimos continuar sem ela. As luzes se acenderam e ficamos de pé cantando outros hinos. Era explícito uma maior integração entre as pessoas que cantavam e tocavam tambor sentindo a música mais intensamente. Aos poucos fomos voltando ao normal e no final todos se abraçavam com belos sorrisos enfeitando seus rostos. 


Fogueira do esclarecimento
Fizemos uma fogueira e trocamos idéias até o amanhecer. Dormimos lá e prometemos ajudar o pessoal a transportar toras de madeira para perto do forno no dia seguinte.


Fábrica de tijolos solo-cimento

Igreja - Santo Daime

Acordei e fui conhecer o local. Eles estavam fazendo tijolos de solo-cimento para a construção de futuras casas e então fui na casa do..... para o lanche. Chá com xapate, uma espécie de massa feita com óleo e trigo não muito nutritivo para o trabalho braçal. Começamos o trabalho e decidimos colocar dois bambus grandes paralelos e empilhar as toras em cima deles para levá-las como uma maca. Fizemos várias viagens e a fome aumentava de acordo com a intensidade do sol. Após algumas horas fomos almoçar arroz com linguiça e macarrão. Uma delícia. 


Local do almoço

Depois pegamos uma trilha para voltarmos para São Thomé com a moça que fez o almoço. No caminho paramos para um banho na cachoeira e nos despedimos no pé da serra. Pegamos carona e logo estávamos na porta da casa do Mandi que não se encontrava. 


Trilha para cachoeira
Trilha da cachoeira

Cachoeira


O esperamos em um bar até que ele chegou e junto com o Mindu e um amigo foram escalar de noite. Eu dei uma pequena volta na cidade depois subi para sua casa. Quando abri o portão, um dos quatro Chow-Chow da casa enfiou a cabeça pro lado de fora e quando abri a porta para empurrar sua cabeça de volta ele e mais dois saíram correndo. Poutz... Fui atrás deles “tiu tiu tiu” e quanto mais próximo tentava chegar mais eles afastavam rosnando e desviavam correndo de minha pessoa. Por um instante pensei que seria impossível resgatá-los e como estava sem dinheiro e celular tive que entrar na casa para tentar ligar para o Mandi. O cachorro que ficou, rosnou pra mim mas entrei assim mesmo e encontrei com a Ametista que disse que era normal eles fugirem. Que bom! Subi tomei banho e dormi.

Chow-Chow
No outro dia conhecemos um cara que tinha saído de sua cidade a pé junto com um cachorro e parecia muito com o protagonista do filme A natureza Selvagem, não só pela sua aventura, que logo acabara com a chegada inusitada do seu pai e seu tio que exigiam que ele voltasse pra casa, já que sua mãe estava doente. Que loucura. O cara ficou com seu discurso adolescente e palpitamos que seria melhor ele conversar com o pai a sós.


Fugindo com mala e dog



Conhecemos a pedra do vento de onde tínhamos uma visão espetacular de 360º de toda a região. De noite víamos várias cidades acordando suas luzes e o céu todo estrelado era realmente magnífico. A visão mais linda que tive em toda minha vida. Ventava demais, por isso o nome do local, e então descemos pra cidade que fica encostada em morros e muita pedra. 


Casa do vento
No centro da cidade, uma gruta perto de uma igreja toda feita de pedra sem nenhuma argamassa entre elas. Pedra sobre pedra. Segundo os moradores essa pedra só é encontrada na região e é muito parecida com a de Pirenópolis porém mais dura, o que possibilita não só a feitura de muros, calçadas e ornamentos, mas também a própria edificação. Incrível!


Gruta
Pedra sobre pedra
Casa de pedra

Casa de pedra


Muita pedra

Igreja de pedra - São Thomé das Letras


Casa dos Ventos

Casa dos Ventos


São Thomé das Letras
Comemos uma pizza vegetariana deliciosa na pizzaria do seu pai e ouvimos alguns dos seus vinis. Mais a noite fomos fazer um som novamente na pedra dos ventos. Sonzera.

Pizzaria

Pizza vegetariana
Vinil - Adoniram Barbosa
Um grande abraço para o Mandi e para a Ametista que nos acolheu como amigos antigos. Com certeza um dia vamos voltar para conhecermos um pouco mais dessa cidade encantadora.
No outro dia seguimos para Caxambu.

Pedreira saída da cidade



Um comentário:

Projeto Vem Ser! disse...

Ahhhhhh... que aventura!!! estou procurando contato em São tomé de igrejas que trabalhe com o Daime. Sabe me dizer sobre essa que vocês foram? Como chegar, contato, etc. Gratidão amigo.