quarta-feira, 30 de março de 2011

Comprar no Paraguai


por: André Tchola


Ciudad del Este é uma loucura! Você consegue adentrá-la sem documento nenhum. É mais fácil que entrar em boate quando se é de menor. Lá dentro você tem que andar como se a conhecesse mais que o seu quarto, porque se andar procurando onde ir, logo ouvirá algo do tipo "amigo" com entonação camarada, "o que estás procurando" com entonação solidária. E ao compartilhar o mesmo espírito solícito, irá começar o jogo capitalista mais agressivo que eu já vi. Qualquer coisa é válida para atingir o objetivo de passar o dinheiro das mãos do turista para a mão dos paraguaios. Nota fiscal é luxo e gasta papel!

Na ponte da amizade podemos ver uma corrida de mulas em ambos os sentidos. No sentido Foz-CDL a corrida é livre, mas do Paraguai para o Brasil a corrida é de obstáculos e com carga no lombo. Daí divide-se em modalidades: sebo nas canelas, "vanmos" nessa, moto-taxi sem cabeça ou socorro meu taxi sumiu. Que correria! Pode-se perder tempo na receita, derrapar na declaração de compras e perder muitos pontos. Todos os atalhos são perigosos, a corrida já é feita a 50 anos e as regras não mudaram.

Aventure-se com moderação, o concurso da receita é um dos mais concorridos do Brasil. Tive a infelicidade de pegar o caminho da esquerda onde ficam os que passam da cota. Toda a bagagem é revistada, se não tiver a cara da nota fiscal ela é recalculada com base em uma pesquisa no google sobre o seu possível preço em dólar, levando em conta o mesmo modelo ou um genérico. Um exemplo: vamos supor que você compre o jornal de ontem e o profissional seríssimo da receita não sabe seu preço e não o encontra no Google. Ele terá que usar o bom senso. Se ele achar que você comprou pano de bunda você terá sorte, pois o preço baixo declarado do jornal será similar ou até maior do que o possível preço do higiênico; mas se o fiscal achar que é o mapa da mina você estará encrencado. Ele poderá dar o preço que bem entender e todo o valor da compra que passar U$300,00 será divido por dois e somado com R$98,00. Essa é sua multa por não ter cara de paisagem.

A guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice aliança no séc. XIX pelo controle da região do Rio Prata, dizimou ¾ da população do País. Os homens quase foram extintos, lá mulher é mato e o desgosto por brasileiro, argentino e uruguaio também.

"... as perdas humanas sofridas pelo Paraguai, são calculadas até em 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra e da fome. Esses números são porém considerados excessivos, considerando-se que a população do país na época não chegaria possivelmente ao meio milhão de habitantes. A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial, e perda de praticamente 40% de seu território para o Brasil e Argentina. Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira."

A realidade do país é cruel, e muitos turistas brasileiros passam apenas pela maior 25 de março do mundo (o PIB da Ciudad del Este corresponde a cerca da metade do país). Esquecem-se da capital Assunção que faz fronteira com a Argentina. Fundada em 1537, é a segunda metrópole mais antiga da América do Sul. Uma cidade histórica que cabe no roteiro turístico de muitos viajantes. Muy Bueno.

Conheça o Paraguai e se for fazer compras lembre-se de não avisar ninguém. Pedalar é preciso...


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